Nuno
estacionou o jipe e decidiu ligar pela quinta vez a Margarida. Ela não atendia
e ele desistiu de tentar denunciar a sua chegada, dirigindo-se a casa de
Isabel.
A
entrada do prédio estava escancarada, deviam andar a carregar coisas, matutou
ele e entrou, deixando a porta naquela posição. Subiu ao primeiro andar e assim
que viu o número 3, soou o alerta em todas as células do seu corpo. Lançou-se a
correr desvairado para dentro do apartamento que estava aberto. A mala de
Margarida estava caída na entrada, pegou nela e percorreu todas as divisões da
casa, possuído por uma mistura de terror e raiva que espatifavam tudo por onde
o gigante passava. Aquilo não podia estar a acontecer. A visão de Margarida a
ser raptada, ou pior, morta, invadia-lhe a mente, levando-o à loucura.
Encontrou
uma mulher deitada na cama e foi percorrido por um arrepio de medo ao vê-la tão
quieta, aproximou-se e certificou-se de que estava viva. Deveria ser Isabel,
raciocinava dificilmente Nuno. Ela dormia profundamente. Tinha sido drogada...
Reagiu por instinto e chamou uma ambulância. Saiu enlouquecido do apartamento,
sem saber o que fazer. Olhava para todo o lado, em busca de uma pista, um
sinal, alguma testemunha do que se tinha passado, alguém que a tivesse visto.
Sentou-se
nos calcanhares, com a cabeça entre as mãos, tentando recuperar alguma clareza
de espírito. Se não fosse Ela, Margarida, a vítima, o que faria? Obrigava-se a
pensar como polícia, mas a dor da impotência e o medo de a perder não deixavam
a mente responder.
Entrou
no carro, olhou a rua deserta e ligou o motor do jipe, e agora? O telefone
tocou e os níveis de ansiedade aumentaram. Seria Ela?.... Era o irmão. Recusou
a chamada e nesse instante teve uma ideia. Tinha de resultar! O filho da puta
não a ia matar, prometeu a si mesmo.
Retribuiu
a chamada a Jorge, que atendeu prontamente,
-Então
pá?! Já te esqueceste outra vez do jantar? Estamos todos aqui à espera! –
disse, animado com a ideia de conhecer a namorada do irmão.
-
Jorge, preciso que autorizes a localização do telemóvel da Margarida! AGORA! Liga
para o Jaime e dá-lhe o número dela, vou enviar-to por mensagem. Mas Já! – e
desligou o telefonema enviando os dados por sms, ligando de volta para o
escritório de Jaime, o colega das telecomunicações, que se demorou a atender,
talvez já estivesse a caminho de casa… Depois de duas tentativas, ele atendeu.
-
Jaime, sou eu, Nuno. Houve um rapto e possivelmente a vítima tem consigo um
iphone. O Jorge vai enviar-te agora o número e preciso imediatamente da
localização do aparelho, não desligues a chamada e vê no teu telemóvel se já
recebeste. – naqueles momentos do tudo ou nada as conversas entre os inspetores
eram reduzidas a factos e Nuno sabia dar ordens.
-
Sim Nuno, já chegou. Tem calma pá, já estou à procura no sistema, mas sabes
quem é que raptou a tua namorada? – Jorge já abrira a bocarra, pensou Nuno.
Teria de se justificar mais tarde aos seus superiores por estar a passar por
cima de procedimentos obrigatórios que deveriam dar início a uma investigação.
-
Suspeito, só isso. – respirava com dificuldade e conduzia freneticamente
mantendo-se em alerta para a qualquer momento se dirigir às coordenadas que
Jaime lhe indicasse.
-
Espera… esteve em movimento até há minutos. Agora parou por um bocado.
Dirigiu-se a… Central de Cervejas? Mas aquilo está tudo abandonado… – Jaime
teve um mau presságio, aquelas antigas fábricas abandonadas eram
recorrentemente o palco de pequenos crimes que envolviam droga. Porque alguém
levaria para ali a namorada de um PJ era mais estranho.
-
Queres reforços? O Jorge quer saber para onde vais ser direcionado, e eu ia
sair agora. Também posso lá ir dar uns socos? – tentou desanuviar Jaime.
-
Não, este é só para mim. – e desligou o telefone.
Jaime
não obedeceu, ligou a Jorge dando-lhe a direção e saiu a correr deixando os
colegas de orelhas no ar com o cheiro de adrenalina explícito de que havia
problemas.
(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)
Sem comentários:
Enviar um comentário