quinta-feira, 23 de março de 2017

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Cap 7 (2ª parte)



Nuno estacionou o jipe e decidiu ligar pela quinta vez a Margarida. Ela não atendia e ele desistiu de tentar denunciar a sua chegada, dirigindo-se a casa de Isabel.
A entrada do prédio estava escancarada, deviam andar a carregar coisas, matutou ele e entrou, deixando a porta naquela posição. Subiu ao primeiro andar e assim que viu o número 3, soou o alerta em todas as células do seu corpo. Lançou-se a correr desvairado para dentro do apartamento que estava aberto. A mala de Margarida estava caída na entrada, pegou nela e percorreu todas as divisões da casa, possuído por uma mistura de terror e raiva que espatifavam tudo por onde o gigante passava. Aquilo não podia estar a acontecer. A visão de Margarida a ser raptada, ou pior, morta, invadia-lhe a mente, levando-o à loucura.
Encontrou uma mulher deitada na cama e foi percorrido por um arrepio de medo ao vê-la tão quieta, aproximou-se e certificou-se de que estava viva. Deveria ser Isabel, raciocinava dificilmente Nuno. Ela dormia profundamente. Tinha sido drogada... Reagiu por instinto e chamou uma ambulância. Saiu enlouquecido do apartamento, sem saber o que fazer. Olhava para todo o lado, em busca de uma pista, um sinal, alguma testemunha do que se tinha passado, alguém que a tivesse visto.
Sentou-se nos calcanhares, com a cabeça entre as mãos, tentando recuperar alguma clareza de espírito. Se não fosse Ela, Margarida, a vítima, o que faria? Obrigava-se a pensar como polícia, mas a dor da impotência e o medo de a perder não deixavam a mente responder.
Entrou no carro, olhou a rua deserta e ligou o motor do jipe, e agora? O telefone tocou e os níveis de ansiedade aumentaram. Seria Ela?.... Era o irmão. Recusou a chamada e nesse instante teve uma ideia. Tinha de resultar! O filho da puta não a ia matar, prometeu a si mesmo.
Retribuiu a chamada a Jorge, que atendeu prontamente,
-Então pá?! Já te esqueceste outra vez do jantar? Estamos todos aqui à espera! – disse, animado com a ideia de conhecer a namorada do irmão.
- Jorge, preciso que autorizes a localização do telemóvel da Margarida! AGORA! Liga para o Jaime e dá-lhe o número dela, vou enviar-to por mensagem. Mas Já! – e desligou o telefonema enviando os dados por sms, ligando de volta para o escritório de Jaime, o colega das telecomunicações, que se demorou a atender, talvez já estivesse a caminho de casa… Depois de duas tentativas, ele atendeu.
- Jaime, sou eu, Nuno. Houve um rapto e possivelmente a vítima tem consigo um iphone. O Jorge vai enviar-te agora o número e preciso imediatamente da localização do aparelho, não desligues a chamada e vê no teu telemóvel se já recebeste. – naqueles momentos do tudo ou nada as conversas entre os inspetores eram reduzidas a factos e Nuno sabia dar ordens.
- Sim Nuno, já chegou. Tem calma pá, já estou à procura no sistema, mas sabes quem é que raptou a tua namorada? – Jorge já abrira a bocarra, pensou Nuno. Teria de se justificar mais tarde aos seus superiores por estar a passar por cima de procedimentos obrigatórios que deveriam dar início a uma investigação.
- Suspeito, só isso. – respirava com dificuldade e conduzia freneticamente mantendo-se em alerta para a qualquer momento se dirigir às coordenadas que Jaime lhe indicasse.
- Espera… esteve em movimento até há minutos. Agora parou por um bocado. Dirigiu-se a… Central de Cervejas? Mas aquilo está tudo abandonado… – Jaime teve um mau presságio, aquelas antigas fábricas abandonadas eram recorrentemente o palco de pequenos crimes que envolviam droga. Porque alguém levaria para ali a namorada de um PJ era mais estranho.
- Queres reforços? O Jorge quer saber para onde vais ser direcionado, e eu ia sair agora. Também posso lá ir dar uns socos? – tentou desanuviar Jaime.
- Não, este é só para mim. – e desligou o telefone.

Jaime não obedeceu, ligou a Jorge dando-lhe a direção e saiu a correr deixando os colegas de orelhas no ar com o cheiro de adrenalina explícito de que havia problemas.

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(imagem, internet)

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