quarta-feira, 8 de março de 2017

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Cap 5 (3ª parte)



O dia começara mal e não havia maneira de melhorar. Margarida não sabia da chave do seu escritório e procurava freneticamente dentro dos buracos da mala, com suores de nervos a escorrerem pela nuca. Aquele homem gigante magoado fitava-a de braços cruzados numa atitude de descontentamento e impaciência, pondo-a cada vez mais descontrolada. Era do senso comum que uma pessoa irritada e nervosa nunca conseguia encontrar nada, será que ele não percebia que só piorava aquela missão impossível de encontrar uma chave minúscula numa mala de mulher?? Despejou todo o conteúdo da carteira no meio do chão, ajoelhando-se com violência, e lamentou ser tão desarrumada. Eram quilos de lixo que não compreendia de onde tinham surgido... que vergonha!! - pensou ela - O seu equilíbrio mental estava a ser levado ao limite e aquela estátua de amargura ali de pé só piorava as coisas. Margarida sentia as lágrimas a invadirem-lhe os olhos e parou a busca histérica, baixando os braços que ficaram pendentes e chorando como se não houvesse amanhã. Foi elevada pelas axilas com suavidade, Nuno retirou-lhe os óculos e encostou-a no seu peito. Margarida abraçou-o com força e deixou que todas as emoções dos últimos dias escorressem livremente, como uma catarse purificadora. Não quebrava assim desde a adolescência.
Estavam os dois de pé, abraçados, em frente à porta do escritório,  quando Catarina surgiu provocadora soltando um risinho abafado.
- Querida, está bem? Precisa de um copo de água com açúcar? - questionou cinicamente.
- Pire-se daqui! - rosnou ele, deixando claro que não ia aturar piadas naquele momento.
Margarida ouviu-a afastar-se rapidamente e queria agradecer a compaixão, mas tinha babado a camisa dele. Como é que o ia encarar sem antes assoar o nariz? Ele parecia ter ouvido os seus pensamentos e tirou do bolso das calças um lenço, entregando-lho. Deixou-a recompor-se e baixou-se à procura da chave que surgiu no meio de ganchos e elásticos para o cabelo, emaranhada naqueles objetos de tortura de cabeças. Arrumou o conteúdo da carteira e abriu a porta da sala, encaminhando Margarida pelo cotovelo. Olhou para a outra ponta do corredor e reparou que Ana observava a cena doméstica com divertimento. Ali havia coisa, pensava ela. Nuno encolheu os ombros embaraçado com a insinuação do olhar da cunhada e entrou para o escritório fechando a porta.
- Tenho de te pedir desculpa, fui duro contigo e és a última pessoa que quero magoar. - confessou ele em jeito de remissão. Margarida fungou e pediu os óculos de volta. Já não bastava estar com um aspeto horrível da choradeira, ainda ficara cegueta.
- Vamos tentar esquecer por agora o meu lado feminino e hormonal? Admito, também tenho chiliques, mas prometo que é muito raro. - sorriu envergonhada e voltou-se para a família que era preciso ajudar.


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(imagem, internet)

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