O
dia começara mal e não havia maneira de melhorar. Margarida não sabia da chave
do seu escritório e procurava freneticamente dentro dos buracos da mala, com
suores de nervos a escorrerem pela nuca. Aquele homem gigante magoado fitava-a de braços cruzados numa atitude de descontentamento e impaciência,
pondo-a cada vez mais descontrolada. Era do senso comum que uma pessoa irritada
e nervosa nunca conseguia encontrar nada, será que ele não percebia que só
piorava aquela missão impossível de encontrar uma chave minúscula numa mala de
mulher?? Despejou todo o conteúdo da carteira no meio do chão,
ajoelhando-se com violência, e lamentou ser tão desarrumada. Eram quilos de
lixo que não compreendia de onde tinham surgido... que vergonha!! - pensou ela - O seu equilíbrio mental estava a ser
levado ao limite e aquela estátua de amargura ali de pé só piorava as coisas.
Margarida sentia as lágrimas a invadirem-lhe os olhos e parou a busca
histérica, baixando os braços que ficaram pendentes e chorando como se não
houvesse amanhã. Foi elevada pelas axilas com suavidade, Nuno retirou-lhe os
óculos e encostou-a no seu peito. Margarida abraçou-o com força e deixou que
todas as emoções dos últimos dias escorressem livremente, como uma catarse
purificadora. Não
quebrava assim desde a adolescência.
Estavam
os dois de pé, abraçados, em frente à porta do escritório, quando Catarina surgiu provocadora soltando um
risinho abafado.
-
Querida, está bem? Precisa de um copo de água com açúcar? - questio nou
cinicamente.
-
Pire-se daqui! - rosnou ele, deixando claro que não ia aturar piadas naquele
momento.
Margarida
ouviu-a afastar-se rapidamente e queria agradecer a compaixão, mas tinha babado
a camisa dele. Como é que o ia encarar sem antes assoar o nariz? Ele parecia
ter ouvido os seus pensamentos e tirou do bolso das calças um lenço,
entregando-lho. Deixou-a recompor-se e baixou-se à procura da chave que surgiu
no meio de ganchos e elásticos para o cabelo, emaranhada naqueles objetos de
tortura de cabeças. Arrumou o conteúdo da carteira e abriu a porta da sala,
encaminhando Margarida pelo cotovelo. Olhou para a outra ponta do corredor e
reparou que Ana observava a cena doméstica com divertimento. Ali havia coisa,
pensava ela. Nuno encolheu os ombros embaraçado com a insinuação do olhar da
cunhada e entrou para o escritório fechando a porta.
-
Tenho de te pedir desculpa, fui duro contigo e és a última pessoa que quero
magoar. - confessou ele em jeito de remissão. Margarida fungou e pediu os
óculos de volta. Já não bastava estar com um aspeto horrível da choradeira,
ainda ficara cegueta.
-
Vamos tentar esquecer por agora o meu lado feminino e hormonal? Admito, também
tenho chiliques, mas prometo que é muito raro. - sorriu envergonhada e voltou-se para a
família que era preciso ajudar.(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)
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