Nuno parou o jipe em frente ao liceu de
Sofia, que ficava mesmo ao lado da casa dos dois, ainda faltavam alguns minutos
para o toque de saída.
Margarida não estava nada confortável com
a ideia de se impor a Sofia daquela forma. Tentou colocar-se no papel da miúda
e decidiu que não lhe iria roubar a atenção do tio assim de repente, poderia ser um choque
para ela ver outra mulher no jipe, sentada no seu lugar dianteiro.
- Tenho de ir levantar dinheiro ao
multibanco e fazer uns pagamentos, podes apanhar-me daqui a meia hora em casa
da minha mãe? É aqui perto, lembras-te?
- Não queria que fosses sozinha, a Sofia
está quase a sair da escola. - disse ele desconfortável com a ideia de a deixar
só. – Espera só mais um pouco.
- Não é preciso levares-me, é mesmo aqui
em baixo. – argumentou - Para além de que a Sofia pode não ficar muito
satisfeita de me ver aqui sem ser avisada. Prefiro assim. - e escreveu a morada
da mãe no seu telemóvel e enviou-lha por sms. Beijou-o e despediu-se, saindo do
jipe.
- Até já… - Nuno ficou angustiado, mas
tinha de lhe dar razão, Sofia iria fazer uma cena de ciúmes e estragar o resto
da noite com os seus amuos. Só mesmo outra mulher para prever as maluqueiras
delas, constatou.
Ficou a vê-la afastar-se do jipe pelo
espelho retrovisor, enquanto ela se encaminhava para o prédio onde havia o
multibanco mais próximo, e tentou descontrair ligando o rádio. O tempo passava
devagar e num impulso adolescente pegou no telefone e premiu a tecla
"Margarida <3". Deu três toques e começava a ficar ansioso com a
demora dela em atender quando Sofia entrou no jipe de rompante fechando a porta
com demasiada força. Agradeceu nunca ter comprado nenhum carro frágil,
certamente já teria ficado destruído com os acessos de fúria feminina da
sobrinha.
Margarida dir-lhe-ia naquele momento para
ele desligar a chamada e concentrar-se na miúda perturbada, ele obedeceu. Mesmo
em pensamento aquela mulher era perspicaz!
Margarida pegou no telefone e adivinhou
que ele teria desistido da chamada por causa da sobrinha e guardou o aparelho
no bolso de trás das calças, atrapalhada com os milhentos papéis de multibanco que tentava guardar na carteira
atafulhada de comprovativos de pagamentos bastante antigos. Tinha mesmo de fazer uma limpeza à mala,
pensou.
Dirigiu-se para casa da mãe em passo
apressado, com um nervoso miudinho de quem anda fugido à polícia e tentou não
dar demasiada corda às suas paranóias. Se se deixasse enervar teria de parar
pelo caminho para encontrar a bomba de asma na mala e tinha pouco tempo para
estar com a mãe.
Tocou à campainha do prédio que foi
prontamente aberta e subiu as escadas para o primeiro andar. A porta estava
entreaberta e estranhou aquela atitude descuidada da mãe. Ela estava bem
estranha, o que se teria passado? Entrou em casa um pouco receosa, quando foi
invadida por um pânico que lhe gelou as veias.
- Mãe? - perguntou com a voz sumida.
Não viu mais nada, ficou tudo escuro e
sentiu uma pancada forte na cabeça. Ia
morrer - foi o seu último pensamento.
(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)
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